sábado, 17 de setembro de 2016

O Tratado de Ouro Fino


O TRATADO DE OURO FINO

O Tratado de Ouro Fino, celebrado em 1913 por Cincinato Braga, de São Paulo, com Júlio Bueno Brandão, de Minas Gerais, fixava a alternância de São Paulo e Minas Gerais no poder governamental, a famosa política do café com leite. Teve como objetivo diminuir a influência política do Rio Grande do Sul, representada por Pinheiro Machado.
Esse acordo, obviamente informal - ninguém colocaria uma coisa dessas no papel e mandaria registrar em cartório, cuidando para assegurar a publicação nos principais jornais do País - foi celebrado em 1913, na cidade mineira de Ouro Fino, daí ter ficado conhecido como "Pacto de Ouro Fino". Aprende-se também, quase sempre, que o "café-com-leite" chegou ao fim porque Washington Luís, o "paulista falsificado" , de acordo com a música de Eduardo Souto, rompeu o acordo feito com os mineiros, ao indicar Júlio Prestes, paulista de Itapetininga, como seu candidato à sucessão.
Acontece, leitor, que se analisarmos a lista de presidentes desde a proclamação da República, em 1889, até 1930, veremos que as coisas não são tão simples quanto parecem, ou pelo menos, não aconteceram exatamente como nos ensinaram. Observe:
Deodoro da Fonseca, alagoano, era militar de carreira;
Floriano Peixoto, também alagoano e militar de carreira;
Prudente de Morais , paulista de Itu, formado na turma de 1863 da Faculdade de Direito de São Paulo;
Campos Sales, paulista de Campinas, também da turma de 1863 da Faculdade de Direito de São Paulo;
Rodrigues Alves, paulista de Guaratinguetá, formou-se em Direito em São Paulo, na turma de 1870;
Afonso Pena, mineiro de Santa Bárbara, formou-se em Direito em São Paulo na turma de 1870;
Nilo Peçanha, nascido em Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, concluiu o bacharelado em Direito na Faculdade de Direito do Recife;
Hermes da Fonseca, nascido em São Gabriel, Rio Grande do Sul, era sobrinho do Marechal Deodoro da Fonseca e, como ele, militar de carreira;
Wenceslau Braz, mineiro de Brazópolis, formou-se em Direito em São Paulo na turma de 1890, tendo sido presidente da República de 1914 a 1918, portanto o primeiro do "café-com-leite";
Rodrigues Alves, como já foi dito era paulista e, eleito presidente, morreu antes de assumir novamente a presidência;
Delfim Moreira, mineiro de Cristina, bacharelou-se em Direito em São Paulo na turma de 1890, sendo presidente de 1918 a 1919, já que era vice na chapa de Rodrigues Alves;
Epitácio Pessoa, paraibano de Umbuzeiro, formou-se em Direito em Recife na turma de 1886, sendo presidente de 1919 a 1922 (apoiado pelos políticos mineiros, foi uma rusga no "café-com-leite");
Artur Bernardes, mineiro de Viçosa, formou-se pela Faculdade Livre de Direito de Minas Gerais, sendo presidente de 1922 a 1926;
Washington Luís, nascido em Macaé, Rio de Janeiro, era, na política, considerado "paulista", tendo concluído o bacharelado em Direito em São Paulo na turma de 1891. Antes de ocupar a presidência da República foi prefeito da cidade de São Paulo e Governador do Estado de São Paulo. Presidente de 1926 a 1930, foi deposto pelo golpe conhecido como "Revolução de 30".
Júlio Prestes, paulista de Itapetininga, formado em Direito em São Paulo na turma de 1906, não chegou a assumir a presidência.
Constatamos que, de Prudente de Morais a Washington Luís, onze pessoas diferentes ocuparam a presidência da República. Dessas onze, dez eram civis e apenas um, o Marechal Hermes da Fonseca, era militar. Quanto ao Estado de origem, excetuando o caso "híbrido" de Washington Luís, verificamos que, dos dez presidentes civis, quatro vieram de Minas Gerais, três de São Paulo (aliás consecutivamente), um do Rio de Janeiro, um do Rio Grande do Sul e um da Paraíba. Porém, se analisarmos apenas o período de vigência do Pacto de Ouro Fino, faremos a espantosa constatação de que os presidentes, foram, por ordem, mineiro, mineiro, paraibano, e mineiro. As exceções, se assim podemos chamar, foram o reeleito Rodrigues Alves, que deveria ter assumido o mandato em 1918, mas que morreu, vítima da gripe espanhola, antes de tomar posse, e o já citado caso de Washington Luís, carioca de Macaé, que, no entanto, reconhecidamente fez sua carreira política em São Paulo, tendo sido prefeito e governador, antes de chegar à presidência da República.
Pergunto: onde está o "café-com-leite", com a suposta alternância de presidentes mineiros e paulistas? Os três únicos verdadeiramente paulistas que chegaram à presidência durante a República Velha (e não só) foram justamente os três primeiros civis, o que se explica facilmente pela relevância política do PRP (Partido Republicano Paulista), criado em 1873, primeiro e decisivo impulsionador do movimento republicano no País, e pela preponderância econômica que São Paulo exercia na época em decorrência de ser o grande centro produtor e exportador de café, produto do qual, em última instância, dependia a economia brasileira quase exclusivamente.
O que mais dizer? Se o "café-com-leite" nunca se consumou, o que haveria, ao menos, em comum, em relação a todos esses presidentes? Primeiro, eram todos do sexo masculino (você notou, leitor?) e além disso, excetuando-se os militares, eram todos formados em Direito. Verifica-se que, sendo todos advogados de profissão, sete obtiveram o Bacharelado em Direito em São Paulo, dois na Faculdade de Direito de Recife e um na Faculdade Livre de Minas Gerais. Por isso, se há alguma coisa que pode, nesse sentido, ser decisiva, é o fato de que a maioria dos presidentes estudou em São Paulo, na mesma instituição, o que talvez assinale uma tradição de pensamento e ação no campo da política. Os fatos, leitor, demonstram que qualquer outra coisa que nos tenham ensinado não passa de mistificação, e não História. Mas esse é apenas um, dentre muitos outros tópicos, sobre os quais se ensina o que nunca aconteceu.

Fontes: Wikipédia e História & Outras Histórias

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